SINDICATO DOS TRABALHADORES NO COMÉRCIO DE MINÉRIOS E DERIVADOS DE PETRÓLEO NO ESTADO DE SÃO PAULO

Em tempos de crise, gás de botijão reina absoluto

Em tempos de crise e em que a alta tecnologia é assunto recorrente no setor de energia, como a perfuração de petróleo na camada pré-sal a sete mil metros de profundidade, o antigo e eficiente botijão de gás de 13 quilos continua soberano no mercado brasileiro. Em 2008, as vendas de GLP (gás liquefeito de petróleo), nome dado ao gás de cozinha, cresceram 2,1%, para 6,8 milhões de toneladas, em relação ao ano anterior, gerando o robusto faturamento de R$ 19 bilhões para o setor. "O Brasil é um país de dimensões continentais e é aí que o botijão demonstra sua eficiência, já que pode ser entregue em qualquer canto do País, sem a necessidade de grandes investimentos ou inovações", avalia Adriano Pires, consultor do setor de energia e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie).

Para 2009, as distribuidoras – como Ultragaz, Liquigás, Copagaz, SHZ Gas Brasil, entre outras – apostam em novo crescimento do setor mesmo diante da crise financeira mundial, que trará retrações para a economia local. "Esperamos um aumento de 2% nas vendas neste ano", diz Sergio Bandeira de Mello, presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de GLP (Sindigás).

Antonio Rubens Silva Silvino, presidente da Liquigás, salienta que "o GLP é um produto de primeira necessidade do consumidor, portanto a demanda residencial não vai cair (com a crise)", comenta. "A distribuição de GLP em botijões abrange 100% do território nacional e garante abastecimento em 95% dos domicílios", frisa Silvino. "Trata-se de uma presença maior que a energia elétrica, a água encanada e a rede de esgoto", completa o executivo.

Do total de GLP comercializado no Brasil, 82% é destinado ao mercado residencial e apenas 18% ao industrial. "Somos muito competitivos na residência e pequenos na indústria", admite Mello, do Sindigás. Porém, na opinião do presidente do sindicato, a forte presença nos domicílios também justifica a necessidade do uso do GLP e a garantia de que o setor não tem como experimentar drásticos decréscimos em seu desenvolvimento.

Para a indústria, segundo analistas do setor de energia, o mais rentável é utilizar o gás natural, que chega nas unidades fabris, em grandes quantidades, por meio de gasodutos. "O GLP tem seu lugar garantido, que é o uso residencial", reforça Pires, do Cbie. O especialista salienta ainda que, desde 2002, o preço do GLP destinado ao envasamento de 13 quilos para uso doméstico não tem reajuste. "A última alta no preço foi durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso", diz Pires. "O não reajuste funciona como um subsídio ao produto e faz parte da política assistencialista do governo Lula. Por isso o botijão deve continuar com o mesmo preço por algum tempo", completa o diretor do Cbie.

Concentração das marcas

No total, o mercado brasileiro conta com 21 distribuidoras de GLP, mas o nível de concentração é bastante acentuado: são cinco marcas com 85% das vendas nas mãos – Ultragaz, SHV, Liquigás (Petrobras), Nacional Gás Butano e Copagaz. "Neste setor, quem não é grande não sobrevive", diz Mello, do Sindigás. "Por outro lado, o mercado de GLP conta com 40 mil revendedores de botijão e é aí que está a grande competitividade, já que a formação do preço do botijão é livre", acrescenta.

Para Pires, o processo de concentração no segmento de distribuição e envasamento do GLP é uma tendência mundial. "No mundo, o varejo em geral está passando por um momento de concentração", diz. "Na comercialização de combustíveis no Brasil, seja os líquidos ou o gás, as margens de lucro são muito apertadas, sobretudo por conta do monopólio da Petrobras. Portanto, se não houver ganhos de escala não dá para a empresa sobreviver", afirma.

Líder de mercado

O diretor do Cbie salienta que o movimento de concentração no setor dos botijões se desencadeou após a compra da Liquigás pela Petrobras. "A Petrobras é monopolista e impul-sionou a concentração neste segmento", comenta. Hoje, a Liquigás responde por 22% do mercado total de GLP (botijões e a granel) e prevê crescer ainda mais neste ano. Levando em conta apenas a comercialização de botijões de 13 quilos, a empresa representa pouco mais de 23% do total das vendas do setor. "A crise financeira vem afetando a economia desde o último trimestre de 2008 e as previsões para 2009 indicam um cenário de desaceleração da economia em geral. Porém, em 2008, o mercado de GLP avançou 2,1% em relação ao ano anterior, superando a expectativa de crescimento para o período, que era de 1,6%, e a Liquigás cresceu bem acima do mercado, 4,3%", compara o presidente da companhia. No ano passado, o faturamento da Liquigás chegou a R$ 3,2 bilhões, ante R$ 2,9 bilhões em 2007. "Desde 2004, a Liquigás é líder no mercado de botijões de 13 quilos", diz.

A Liquigás comercializou, no total, 1.508.095 toneladas de GLP. A área de envasado (botijões) registrou venda anual de 1.227.810 toneladas, a maior da história da Liquigás neste segmento e 2,7% superior a 2007. Em vendas de GLP a granel (para atender indústrias, condomínios, hotéis e restaurantes), foram 280.285 toneladas, um crescimento de 11,7% em relação a 2007. Segundo dados da companhia, a Liquigás atende 7,5 milhões de residências, além dos seus clientes comerciais e industriais abastecidos a granel, em todos os estados do Brasil, exceto Acre, Amazonas e Roraima.

A SHV Gas, que representa 22,9% das vendas do mercado, prevê ter incremento de 2,4% no faturamento neste ano. "Em 2008 faturamos R$ 3,114 bilhões e, para 2009, devemos alcançar cerca de R$ 3,191 bilhões", diz Rubem Mesquita Vieira, diretor de marketing da SHV Gas.

A Copagaz também acredita em ascensão no faturamento e nas vendas da empresa este ano. "A previsão para este ano é faturar R$ 1,1 bilhão com a comercialização do GLP", afirma Ueze Zahran, presidente da empresa. Para incrementar o caixa, Zahran diz que a intenção é ampliar em 3% as vendas do gás liquefeito. "A nossa estimativa é vender 522 mil toneladas de GLP, 3% acima das 506 mil toneladas negociadas no ano passado", prevê Zahran.

O presidente da Copagaz ressalta o processo de concentração do setor. "No início da Copagaz, em 1955, existiam 21 companhias de gás e o consumo no Brasil atingia cerca de 200 mil toneladas ano, somente. Hoje, são cinco companhias, que vendem juntas 96% do total de quase 7 milhões de toneladas ano vendidas no País", calcula. "Não existe no mundo nenhuma companhia que venda num só país 1 milhão e 500 mil toneladas/ano. Isso só acontece aqui", compara Zahran.

Avanço do uso

O diretor superintendente da Ultragaz, Pedro Jorge Filho, diz que, mesmo com a crise financeira, é possível manter visão de mais longo prazo de dobrar o tamanho do mercado brasileiro – um dos cinco maiores do mundo em consumo de GLP – até 2020 ou 2025. Do total vendido no País, a Ultragaz responde por quase 24%, com 1,6 milhão de toneladas.

Jorge Filho avalia que há ainda espaço importante para crescimento, por exemplo, no uso doméstico em substituição a lenha. A distribuição dos botijões já alcança pontos distantes, por barco, muitas vezes. E em algumas regiões tem características diferenciadas, como em Itabaiana, Sergipe, cidade na qual o representante da companhia utiliza carroças padronizadas. "A população não quer os caminhões", afirma Jorge Filho. A atividade está de tal forma incorporada ao dia-a-dia da população local que as mulas saem ornamentadas no Carnaval e participam de outras festas locais", afirma.

Gargalos do setor

Apesar dos crescimentos expressivos da Liquigás, Silvino critica o alto nível de informalidade e clandestinidade na comercialização de GLP, fato que prejudica as vendas das companhias regularizadas. "Além de criar concorrência desleal com as revendas autorizadas, pela sonegação de impostos, os distribuidores informais ainda geram diversos problemas de segurança, pois não são raros os acidentes decorrentes da não observância das exigências para o correto armazenamento e distribuição dos botijões de GLP e da adulteração de produto", diz.

Para o presidente da empresa, os revendedores que investem no negócio, que promovem a padronização da marca em seus pontos de venda e têm despesas com treinamento e aquisição de uniformes de seus funcionários, dentre outros gastos, "acabam por ficar em desvantagem ao concorrer com gente que não paga impostos, não registra funcionários e adultera o peso do botijão".

(Roberta Scrivano – Colaborou Rita Karam – Gazeta Mercantil)
Por: Gazeta Mercantil

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